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‘Nosso Fiel Traidor’ é adaptação estilosa de John Le Carré

6th outubro 2016   ·   0 Comments

Thriller de espionagem foca nas relações escusas entre o crime organização e a classe política, tudo a partir do ponto de vista do homem comum

Filme de espionagem que é adaptado da obra do escritor britânico John Le Carré já sai com uma margem de vantagem considerável em relação a um filme de espionagem convencional, sem um pedigree tão distinto como esse. “Nosso Fiel Traidor”, novidade nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6), se enquadra nesse perfil. Dirigido por Susanna White, das séries “Masters of Sex”, “Billions” e “Generation Kill”, o thriller deve agradar em cheio quem gosta de uma boa trama de espionagem.

Cena do filme

Cena do filme “Nosso Fiel Traidor”, que estreia nesta quinta-feira (6) nos cinemas brasileiros

Foto: Divulgação

“Nosso Fiel Traidor”, relançado pela Editora Record na esteira da chegada do filme, não é dos romances mais ardis de John Le Carré, mas é eficiente. O autor britânico, que já foi adaptado para o cinema diversas vezes, parece ter sido redescoberto por Hollywood como atestam os recentes “O Homem Mais Procurado” (2014), “O Jardineiro Fiel” (2005) e “O Espião que Sabia Demais” (2011). Em 2016, a minissérie britânica “The Night Manager”, estrelada por Tom Hiddleston e Hugh Laurie, também reafirmou a excelência do escriba para a seara da espionagem.

Em “Nosso Fiel Traidor”, Ewan McGregor vive Perry, um professor de poesia que viaja para o Marrocos com sua esposa Gail (Naomi Harris) para tentar uma improvável reconciliação após uma traição por parte dele. Lá, ele acaba entrando no radar do carismático mafioso russo Dima (interpretado pelo sueco Stellan Skarsgard). A razão da aproximação de Dima vai sendo revelada ao público aos poucos. O que parecia ser um simples caso de um fanfarrão e egocêntrico russo se divertindo e se exibindo com um acanhado e impressionável britânico, logo se revela parte de um plano ousado de Dima, que é contador da máfia russa.

Dima e seu charme intimidador em

Ele sabe que é um arquivo a ser queimado e que está sendo mantido sob intensa vigilância. Portanto, ele tenta acessar o serviço secreto britânico por meio de Perry. Ele tenta negociar a troca de informações confidenciais por asilo para ele e sua família na Inglaterra.

É claro que as coisas não poderiam ser tão simples, por mais dinâmico e esperto que seja o plano de Dima. O que o filme de White melhor capitaliza é justamente em evidenciar a aderência da corrupção à atividade política. A organicidade com que as bifurcações se dão e como os interesses pessoais podem ser detonadores de grandes escândalos políticos. Nesse sentido, a motivação do agente vivido por Damian Lewis para desbaratar o esquema construído pela máfia russa junto a um banco com negócios em Londres é de uma sutileza brilhante.

Sutis são sempre os arranjos propostos por John Le Carré e “Nosso Fiel Traidor” se ajusta ao retrospecto do autor mantendo alta a tensão e elevando o padrão de inteligência no cinema. Pode não ser a melhor adaptação do britânico, mas é um filme muito recomendável para quem gosta de um cinema de alta voltagem que dispensa cenas de ação descerebradas.



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